Crônicas de Cananéia- O Antigo e misterioso caminho do Peabiru

Cananéia, é provavelmente, o mais antigo Município Brasileiro, controvérsias a parte, não poderíamos deixar de citar o famoso caminho de Peabiru, sobre ele existem vários estudos e relatos, caminho este construído antes dos estrangeiros aqui aportarem, provando que sim, já existia Civilização organizada, que inclusive interagia com outras províncias bem distantes como veremos abaixo:

Antes dos espanhóis e portugueses chegarem aqui, havia uma grande população indígena que ocupava as terras da América do Sul. 

Seus vários grupos mantinham contato por meio de trilhas que formavam uma teia imensurável.

Esses caminhos ligavam pontos extremos do continente, sendo denominado Peabiru. 

Composto de um emaranhado de percursos, o Caminho de Peabiru tornou-se conhecido do homem branco desde os tempos da caça insana promovida por espanhóis e portugueses ao tesouro de Potosí, na região do lendário Rei Branco, em terras da atual Bolívia. 

Esse caminho ligava Cananéia (SP) a Guaratuba (PR), Florianópolis (SC), Guaíra (PR), Potosí (Bolívia), Assunção (Paraguai) e Cuzco (Peru), e permitia o contato das tribos da nação guarani com as do Norte e do Sul do Estado do Paraná, entre elas as que habitavam os Campos de Piratininga (SP), os Campos Gerais (PR), o Chaco (MS) e os Pampas (RS), através de rotas denominadas Tupiniquim, Tupinambá, Tamoio, Guaná, Carijó e Guarani. 

Peabiru, em tupi, significa “pe”, caminho, e “abiru”, gramado amassado. 

Pelas vias tortuosas, era intenso o comércio entre índios e incas, fato comprovado após um machado andino ser encontrado em Cananéia.

Alguns trechos preservados têm piso recoberto da grama puxa-tripa, outros têm piso de pedra, onde aparecem inscrições rupestres e mapas. 

Em território brasileiro, um de seus traços ou ramais era a chamada Trilha dos Tupiniquins, (dos quais sou antepassado pelo ramo do Cacique Ari Yó Piquerobi), no litoral de São Vicente, que passava por Cubatão e por São Paulo, em lugares posteriormente conhecidos como o Pátio do Colégio e rua Direita, cruzava o Vale do Anhangabaú, seguia pelo traçado que hoje é o das avenidas Consolação e Rebouças, e cruzava o rio Pinheiros.

Outro ramal partia de Cananeia. 

Ramificações adicionais partiam do litoral dos atuais estados de Santa Catarina e Rio Grande do Sul.

Em 1524, parte desse caminho foi percorrido pelo náufrago português Aleixo Garcia, que comandou uma expedição integrada por algumas centenas de índios guaranis e carijós, partindo da Ilha de Santa Catarina ("Meiembipe"), percorrendo essa via para saquear ouro, prata e estanho, tendo atingido o território do Peru, no Império Inca, nove anos antes da invasão espanhola dos Andes em 1533.

Outros relatos dão conta de que Martim Afonso de Sousa, fundador da Vila de São Vicente, (na minha opinião quem fundou foi o Mestre Cosme Fernandes Pessoa, o Bacharel, formado pela Universidade de Salamanca na Espanha), só se fixou naquele trecho do litoral porque, de antemão, dispunha de informações de que, dali, se teria acesso ao caminho que o levaria às minas do Potosí, na Bolívia, e aos tesouros dos incas. 

Por sua determinação, uma expedição partiu de Cananeia (no litoral da Capitania de São Vicente), em 1 de setembro de 1531, com o mesmo destino, sob o comando de Pero Lobo, tendo Francisco de Chaves, (genro de Mestre Cosme Fernandes Pessoa, do qual sou Antepassado, pois Mestre Cosme, era casado com Karai-Yó-Ururay, filha do Cacique Piquerobi, sendo a filha deles Maria Gardete Fernandes ou M'bce Fernandes, casada com Francisco de Chaves), como guia. 

Seguindo por um antigo caminho indígena que entroncava com o Caminho do Peabiru, esta expedição desapareceu, chacinada pelos indígenas guaranis nas proximidades de Foz do Iguaçu quando da travessia do Rio Paraná. 

O espanhol Álvar Núñez Cabeza de Vaca começou a caminhada partindo da foz do rio Itapocu, no litoral norte de Santa Catarina, no dia 2 de novembro de 1541, vindo a descobrir, no final de janeiro de 1542, as Cataratas do Iguaçu. 

Na mesma época, o aventureiro alemão Ulrich Schmidl percorreu-o em 1553. 

Os jesuítas batizaram esse caminho de "Caminho de São Tomé", tendo-o utilizado nas suas atividades de evangelização e aldeamento de indígenas, na região do Rio Paraná, ainda em meados do século XVI. 

No século XVII, bandeirantes paulistas, como Antônio Raposo Tavares, trilharam essa via para atacar as missões jesuíticas.

O caminho tinha diversas ramificações utilizadas pelos guaranis, que, através delas, se deslocavam pelas diversas partes do seu território, mantendo, em contato, as tribos confederadas através de uma espécie de correio rudimentar chamado parejhara que ligava o norte e o sul do Brasil, da Lagoa dos Patos até a Amazônia. 

Segundo a tradição desse povo, o caminho não foi aberto por eles, que atribuem a sua construção ao ancestral civilizador Sumé, que teria criado a rota no sentido leste-oeste. 

Através do caminho, era realizada uma intensa troca comercial (na base do escambo) entre os índios do litoral e do sertão e os incas: os índios do litoral forneciam sal e conchas ornamentais, os índios do sertão forneciam feijão, milho e penas de aves grandes como ema e tucano para enfeite, e os incas forneciam objetos de cobre, bronze, prata e ouro. 

Como prova desse comércio, pode ser citada a descoberta de um machado andino pré-colombiano de cobre em Cananeia, no litoral de São Paulo.

Pesquisas iniciadas no século XIX pelo Barão de Capanema levaram à formulação da hipótese de o caminho ter sido criado pelos incas numa tentativa de trazer a sua cultura até os povos da costa do Oceano Atlântico, abrindo o caminho no sentido oeste-leste, portanto. 

Como apoio a essa linha, refere-se o testemunho de mais de um cronista de que os incas chamavam seu território de Biru. 

Desse modo, a denominação do caminho poderia resultar do híbrido pe-biru, que equivaleria a "caminho para o Biru". 

Embora não existam informações acerca da razão pela qual o projeto inca não foi levado a cabo, entre as evidências de sua presença em território brasileiro, cita-se o correio dos guaranis.

Restam ainda, em pontos isolados de mata e em algumas localidades, reminiscências desse caminho, que se caracterizava por apresentar cerca de 1,40 metro de largura e leito com rebaixamento médio em relação ao nível do solo de cerca de 40 centímetros, recoberto por uma gramínea denominada puxa-tripa. 

Nos seus trechos mais difíceis, o caminho chegava a ser pavimentado com pedras. 

Em alguns trechos, era sinalizado com inscrições rupestres, mapas e símbolos astronômicos de origem indígena.

Na década de 1970, uma equipe coordenada pelo professor Igor Chmyz, da Universidade Federal do Paraná, identificou cerca de trinta quilômetros remanescentes da trilha na área rural de Campina da Lagoa, no estado do Paraná.

Ao longo desse trecho, foram, ainda, identificados sítios arqueológicos com vestígios das habitações utilizadas provavelmente quando os indígenas estavam em trânsito. 

Mais recentemente, essa universidade vinha desenvolvendo trabalhos para tornar o caminho uma atração turística, a exemplo do Projeto Estrada Real, em Minas Gerais.

Nada mais justo, pois o Peabiru é a prova concreta de que os índios que aqui habitavam antes da chegada dos “colonizadores” não eram tão grotescos e selvagens como os homens brancos os descreveram no início do século XVI.

Também uma forma justa de reconhecer os valores e culturas de nossos Antepassados.

E homenageando meu Antepassado, Cacique Ari Yo Piquerobi, líder Tupiniquim, abaixo a transcrição do caminho  dos Tupiniquins, um dos ramais do caminho do  Peabiru.

A trilha dos Tupiniquim foi um ramal do caminho do Peabiru, aberto durante a diáspora tupi pelo continente. 

Representa a mais antiga ligação entre o litoral vicentino (hoje baixada Santista) e o planalto, antes mesmo do período colonial, já que largamente usado pelos tupis, tanto para chegar ao rio Paraná como para chegar à costa brasileira. 

O percurso do litoral ao planalto consumia dois dias para subir e um para descer.

A trilha em si, tinha início em Piaçaguera e subia pelo Paranapiacaba (pê-rá-ñái-piâ-quâb-a, “travessia para o porto de mar”  ou “caminho do porto”), até alcançar a serra do Mar, passando pelos campos de Gyoapé, cruzando os rios Jurubatuba-Mirim e Jurubatuba-Açu até encontrar as nascentes do antigo rio Tamanduateí (atual Ribeirão dos Meninos), no atual município São Bernardo do Campo, e daí seguia até o córrego Anhangabaú, dando acesso a várias aldeias, entre elas a do cacique Tibiriçá, na colina onde hoje está o atual Pátio do Colégio, no centro de São Paulo. 

Um trecho da trilha, próximo à crista da serra, ou "rio abaixo" (abaixo dos rios Jurubatuba-Açu e Jurubatuba-Mirim) seria, a partir de 1554, com a eclosão da Confederação dos Tamoios controlada pelos Tupiniquins rebeldes, aliados dos Tupinambá e dos Carijó, que combatiam os portugueses e eram contrários à colonização do território de seus ancestrais (os tá.mõi - os "avôs" ou antigos donos da terra). 

Em janeiro de 1532, o capitão-mor Martim Afonso de Sousa subiu ao planalto por este caminho, com a ajuda de João Ramalho e Tibiriçá. 

Porém, devido ao receio que tinha de ataques dos Carijó, que habitavam a região da Cananeia, em vista dos boatos de que exploradores eram atacados e devorados, Martim Afonso determinou o fechamento do caminho e proibiu o acesso ao sertão. 

O caminho seria reaberto em 1544 por ordens de Ana Pimentel, esposa de Martim Afonso e sua procuradora. 

O caminho seria muito utilizado até 1554, quando começa a ser evitado em virtude do início da Guerra dos Tamoios. 

Um novo caminho é então aberto por Salvador Pires, a mando do padre Manuel da Nóbrega, ficando conhecido como Caminho do Padre José, devido a ser muito utilizado pelo missionário José de Anchieta, só que esse caminho era muito íngreme, obrigando o destemido Padre Anchieta a subi-lo (de gatinhas), em alguns pontos.

O trecho de Paranapiacaba, já evitado por essa época, ficou extremamente perigoso para os portugueses, pois era controlado pelo índio Tupiniquim, Araraí, irmão do cacique Tibiriçá.

Araraí e Piquerobi (também irmão de Tibiriçá) eram amigos dos portugueses, mas a amizade acabou em 1554, quando foram convencidos por Aimberê a guerrearem contra os invasores. 

Percebendo a verdadeira intenção dos portugueses em escravizar os povos indígenas, Araraí e Piquerobi decidiram apoiar a resistência tamoia, unindo-se aos Tupinambá e aos Carijó.

Em 1560, com os portugueses acuados pelos Tamoios, Mem de Sá determinou novamente o fechamento do caminho, ameaçando com pena de morte os infratores.

Fontes: https://pt.wikipedia.org/wiki/Caminho_do_Peabiruhttps://pt.wikipedia.org/wiki/Trilha_dos_Tupiniquins, Imagens: https://www.mochileiros.com/topic/3846-caminho-do-peabiru-trilha-dos-tupiniquins-goianases-ou-caminho-de-pia%C3%A7ag%C3%BCera/, www.dakila.com.br












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