Crônicas de Cananeia- A Lenda do tesouro do bom abrigo

Em visita a essa histórica cidade, palco de tantas glórias para História do Brasil, Afonso Schmidt teve a oportunidade de entabular longa prosa com o velho caiçara seu Lolô, figura muita conhecida à época.

Seu Lolô era tão velho que nem ele mesmo sabia a própria idade. 

Sabia reconhecer as pegadas das pessoas na areia da praia, e dizia se eram de conhecidos ou de “gente de fora”. 

Tinha olhos de bugre.

Sobre o lendário tesouro da Ilha do Bom Abrigo, Schmidt ouviu do velho Lolô a seguinte história.

A galera Havelock, comandada pelo capitão Bow-Legged, tinha vindo do Pacífico, depois de aventuras na Argélia. 

Ao se aproximar do Bom Abrigo, a galera bateu nas pedras e ficou encalhada. 

Salvaram-se apenas o capitão, o grumete Sharp (de uma escuna inglesa saqueada) e meia dúzia de marinheiros.

O velho Lolô garantia que a galera naufragara na Ponta de Leste, onde, nos tempos de dantes, existiam armações de baleias. 

O avó de Lolô, de alcunha Piropava (curiosamente semelhante a “Peroupava”, antigo bairro de Iguape) encontrara os destroços da galera. 

Os pescadores chamavam o local de Saco da Galera.

De pistola em punho, Bow-Legged obrigou os marujos a transportarem as arcas com o seu tesouro para a praia. 

Seguindo pelo jundu, chegaram a um barranco, onde o capitão obrigou a marujada a escavar um túnel de duas braças de profundidade, no qual as arcas foram depositadas.

À noite, quando todos dormiam, menos Sharp, o capitão se livrou dos grumetes à machadinha. 

Sharp conseguiu fugir para o continente. 

Depois seguiu para o Rio Grande do Sul. 

Registrou todos os detalhes do esconderijo do tesouro em um pergaminho.

No ano seguinte, doente e prevendo morte próxima, procurou um médico, que tratou dele por alguns meses. 

Em agradecimento, Sharp deu ao médico o pergaminho, que, mesmo guardando-o, não lhe deu grande importância.

Casando uma filha, o médico presenteou-a com o pergaminho. 

Passados cinquenta anos, viúva, a senhora visitou em São Paulo, o professor Eduardo Pereira, que ficou com o documento.

Em 1910, o Dr. Carlos Pereira, filho de Eduardo, foi até a Ilha do Bom Abrigo, acompanhado pelo coronel Meireles, da Secretaria da Justiça, de juízes e um ministro do Tribunal. 

De pergaminho em punho, localizaram o local do tesouro, mas para a decepção geral, não conseguiram localizar o dito cujo.

A Ilha do Bom Abrigo é cheia de lendas. 

Dizem que vagam por lá assombrações, fantasmas com grilhões, ouvem-se soluços profundos, cochichos, rezas, pragas, uivos, gritos lancinantes.

Certa feita, marinheiros de um navio norueguês decidiram pernoitar na ilha. 

Viram e ouviram coisas monstruosas, que os deixaram apavorados. 

Não pensaram duas vezes e voltaram ao mar. 

No antigo farol, contam que vultos misteriosos subiam pelas escadarias sob a luz bruxuleante do luar...

Fonte:https://www.ovaledoribeira.com.br/2019/03/o-tesouro-de-cananeia.html 

Imagem: https://pt.quora.com/Quais-s%C3%A3o-alguns-dos-tesouros-perdidos-mais-valiosos-do-mundo

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