Lendas da Indochina: Anan- A primeira Orquídea do Mundo

Como as flores, a orquídea também tem a sua lenda. 

Vamos conhecê-la como é contada nas terras da Indochina: O Anan, havia sido conquistado pelos Chineses havia três-quartos de século.

Essa formosa Terra, apesar da tirania do usurpador, ainda conservava límpidas e perenes as tradições do Santo Rei Hung IV.

Budha não deixaria de proteger esse povo trabalhador e submisso, porque as amendoeiras continuavam a florir.

Na Cidade existia uma jovem formosa chamada Hoan-Lan, que divertia-se a fazer penar suas paixões, nos seus numerosos adoradores.

Por um sorriso, o joven Kien-Fu, havia cinzelado o ouro mais puro e trabalhado com infinita paciência as mais lindas peças de jade.

A ingrata, após se adornar com todos os presentes do nobre apaixonado, riu-se dele e o desprezou, desesperado Kien-Fu acabou com a própria vida, atirando-se ao rio vermelho.

O pintor Nguyen-Ba, conseguiu obter cores desconhecidas para pintar o retrato de sua amada. Esta porém, depois de ter exibido para satisfação de sua vaidade, a magnífica pintura, desprezou o artista, que desapareceu para sempre no mistério das selvas.

Mai-Da, apaixonado também, quis patentear o seu amor a jovem volúvel, inventando um perfume delicioso, digno dos anjos. A ingrata perfumou-se e mandou por na rua o seu adorador, que nada mais aspirando da vida, se envenenou.


Cung-Le, levou sua perseverança a incrustar nácar numa pulseira de ébano, que foi recebida pela ingrata. O pobre endoideceu.

Mas o poderoso deus das cinco flechas, que tudo via e tudo ordenava, julgou que era o momento de castigar tanta maldade, fazendo a jovem volúvel apaixonar-se pelo formoso Mun-Cay.

E desde então Hoan-Lan, sonhava em seu leito de nácar e sedas bordadas, com o seu adorado, cujo nome esvoaçava em seus lábios de carmim, como uma borboleta sobre a rosa. Ao despertar, descia à piscina, banhava-se e adornava-se com suas jóias mais preciosas para ver passar seu querido Mun-Kay, que apenas se dignava a levantar seus olhos para ela. Nunca tinha considerado a formosa jovem, nem se interessava pela fama de sua beleza que tinha ardido em volta.

Os dias iam passando e Mun-Kay não saia de sua indiferença cruel. Um dia Hoan-Lan decidiu sair-lhe ao encontro e declarar-lhe paixão. “Não me interessas Rapariga”, disse Ele, “é como todas as outras, para mim, não vales nada". Se fosses como aquela que eu amo....Esta sim é uma deusa. Tu, mísera Hoan-Lan, com toda a sua vaidade, não serve para atar-lhe as fitas das sandálias”

E com um sorriso desdenhoso, afastou-se.

Em meio de seu desespero, Hoan-Lan lembrou-se do deus todo-poderoso que vivia na montanha Tan-Vien. Talvez ele pudesse lhe valer. Apesar da noite escura e chuvosa, a jovem dirigiu-se ao monte sagrado onde residia sua última esperança. A entrada do templo subterrâneo era guardada por um terrível dragão. Suplicou-lhe a concessão de entrada e ao cabo de muitos pedidos conseguiu penetrar em extenso corredor, por entre serpentes horríveis que lhe bajulavam os pés nus.

Quando chegou junto ao trono de ônix, do poderoso gênio, prostrou-se e implorou:

“Cura-me que sofro horrorosamente. Amo Mun-Cay que me despreza.

É justo o castigo respondeu o deus, “porque isto mesmo tens feitos aos seus apaixonados”.

Ó todo-poderoso, tem dó de mim. Concede-me o amor de meu querido Mun-Cay. Sabes bem que não posso viver sem ele.

Vai-te daqui, rugiu o gênio, nada conseguirás. O castigo que pesa sobre ti, foi imposto pelo Kama, que tudo sabe. É justo que sofras, sai do meu templo.

A saída, Hoan-Loan encontrou-se com uma bruxa de pés de cabra. Formosa jovem, disse-lhe a bruxa, sei que és muito infeliz, queres vingar-se de Mun-Kay?. Vende-me tua alma e juro-te que, embora Mun Cay não te ame, não amará jamais outra mulher.

Hoan-Lan voltou para sua casa, que mais parecia um cárcere, saia pelos bosques a distrair sua pena, mas em vão.

Um  dia, vendo de longe seu adorado Mun-Cay, correu para ele e, quando se preparava para abraça-lo, o jovem foi transformado numa árvore de ébano., neste momento apareceu-lhe a bruxa, que soltando uma gargalhada lhe disse: “desta maneira, o teu amado não pode ser nunca de outra mulher”.

Bruxa infame, disse Hoan-Lan, o que fizeste ao meu adorado, devolva-mo ou mata-me.

“Contratos são contratos” replicou a bruxa, cumpri o que lhe prometi. A tua alma me pertence, Mun-Cay, embora não te ame, também não amara outra mulher.

Hoan-Lan, abraçada ao pé da árvore, clamava desesperadamente ao seu tronco imóvel.

“Perdoa-me Mun-Cay, tem para mim uma só palavra de amor, de indulgência e compaixão. Não ves como me arrasto aos seus pés, como te abraço, como sofro?.

Mas a árvore nada respondia. A Jovem ficou ali por muito tempo.

Um dia passou por ali um gênio que se compadeceu de sua dor. Acercando-se dela, pôs-lhe um dedo na testa e disse: “Mulher, procedeste muito mal, foste volúvel até a crueldade e ingrata até a malvadez, mas a dor purificou sua alma, estas perdoada e deixarás de sofrer".

Antes que a bruxa venha buscar a tua alma, vou transformar-te numa flor. Ficaras sendo uma flor esquisita e requintada, que dê a impressão do que foi a tua vida maldosa. Quem vir as tuas pétalas, facilmente adivinhará o que foi o teu espírito, caprichoso, volúvel, cruel e a tua preocupação constante pela elegância.

“Concedo-lhe um bem: Não te separarás do que adoras e viverás da sua seiva, parasita do seu amado”.

Assim falou o poderoso gênio. E quando falava, a túnica rosa de Hoan-Lan ia empalidecendo e tornando-se uma delicada cor lilás.

Os olhos da  jovem brilharam como pontos de ouro e as suas carnes tornaram-se da tonalidade do nácar.

Os seus formosos braços enrolaram-se na árvore na derradeira súplica. E assim apareceu a primeira Orquídea do mundo, segundo a Lenda do Anan.

Fonte: (Texto publicado na revista “Mulher perfume”, edição nº 1, fevereiro de 1935).

Imagem: Pinterest.

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