Crônicas de Cananéia- O ipupiara

Na Vila de Cananeia também apareceu um Ipupiara, conforme lemos nas “Memórias da Villa de Cananea”, resgatadas pelo historiador Antônio Paulino de Almeida (1882-1969):  1733 entraria para os anais da vila como o ano em que ali apareceu o monstro que os bugres do lugar chamavam de Ipupiara, “coisa má que anda n´água”.

O nome Ipupiara foi dado pelos índios que significava demônio d’água. 

Possuía 3,5 metros de altura, braços longos, pés de barbatanas, dentes pontiagudos, o corpo coberto de pelos e focinho com bigode.

A horrenda criatura foi vista por vários moradores enquanto parecia vadiar na quentura do dia.

Afiançavam que, satisfeita de lagartear-se, retirava-se para o poço de um rio que vertia das fraldas do monte Itapitangui e desaguava no mar.

Relata a crônica que o monstro tinha a cabeça e o corpo de um touro. 

Media treze pés de comprimento e nove de grossura. 

O pescoço levantado media três palmos de comprido e cinco de grossura. 

Glândulas encarnadas destacavam-se na horrível caraça, que tinha viseira e crinas inclinadas sobre a moleira. 

As orelhas, também escarlates, de um palmo de altura, eram semelhantes às do homem. 

No lugar dos cornos tinha uns calos duros, altos e negros. 

Os olhos, redondos e com as meninas pretas, a circunferência, encarnada.

As ventas abertas eram do tamanho de um punho. 

A bocarra, rasgada. 

Os beiços, grossos e rubicundos. 

As queixadas, com poucas barbas, grossas e duras. 

Os dentes, largos, unidos e cortantes, seguidos de uma língua redonda. 

Os braços e pernas, três palmos de compridos e pouco menos de largura. 

Seus cinco dedos eram de meio palmo de compridos, as unhas negras, grossas e quadradas. 

A calda, de três palmos de comprido, acabava em duas pontas abertas, que eram peladas, lisas e encarnadas. 

O corpo, todo frisado de pelo curto, macio e acastanhado.

O que despertou mesmo a curiosidade do povo foi a descrição das partes íntimas da besta, cuja semelhança com a genitália humana, o cronista, pudico, não se atreveu a descrever na língua de Camões. 

Buscou socorro e providencial recato na língua de Cícero: “(…) cum sit immodicec longum: altamen genitale hominie simile (…)”.

Após árdua e perigosa caçada, com o risco da própria vida, Pedro Tavares e seus camaradas conseguiram dar cabo da besta. 

Ali mesmo, na praia ocidental da Vila, procederam à dissecação do animal, inclusive registrando as suas medidas o mais fiel possível, a despeito de só assinarem os nomes fazendo uma cruz no papel. 

O grito da fera, que se fez ouvir por toda a vizinhança, era similar ao berro do boi. 

Contam que do gordo de suas carnes se derreteu “abundante e claríssimo azeite”.  

Também na Cidade de São Vicente, surgiu um Ipupiara, a imagem acima, foi inspirada nos relatos da época.

Fontes: www.cidadeecultura.com

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Crônicas de Jacarei- A fundação da Cidade

Crônicas de Itú- Francisco Flaviano de Almeida: Ilustre representante das Artes Cênicas

Crônicas de São Sebastião- A Fundação