Os Padres Sebastianenses Domingos da Costa Ribeiro e José Faustino Bravo
Padre Domingos da Costa Ribeiro, natural de São Sebastião, foi um dos mais antigos vigários da vila, sendo seus pais, Domingos da Costa Ribeiro e dona Francisca Carassa.
No ano de 1777 contava 82 anos de idade, o que leva a crer ter nascido em 1695, não havendo outras referências sobre sua vida a não ser que houvesse ocupado o cargo de vigário colado.
Padre Domingos, é meu Tio da sétima Geração, por parte Paterna.
Padre José Faustino Bravo, nasceu na mesma Vila, no ano de 1773.
Sebastianense ilustre, também ocupou vários cargos de importância, como os de Juiz de Fora pela Lei, Mestre de Gramática Latina, Juiz Ordinário, entre outros.
Era filho do Capitão Mór da Vila de São Sebastião, Domingos da Costa Ribeiro e dona Margarida Roza da Luz, filha do Alferes Diogo José Bravo e dona Teresa Maria.
Dona Margarida Roza e o Capitão Domingos da Costa Ribeiro, tiveram muitos filhos, sendo o padre Faustino um dos mais velhos.
Eram seus irmãos: Domingos, Inácio, José, Maria, Ana, Gertrudes, Joaquina e Matilde.
Padre Faustino é meu Tio da quinta Geração, também por parte Paterna.
Inclusive, seu Pai, o Capítão Mór Domingos da Costa Ribeiro, tendo seu filho, o Padre Faustino, no ano de 1815, autorizado a um construtor, Manuel Alves de Abreu a retirar pedras da pedreira de seu Pai graciosamente, para a construção da nova Matriz, tendo sido ludibriado pelo dito construtor, fato que resultou em um processo, cuja íntegra transcrevo abaixo, retirado do volume II da excepcional obra Memória Histórica de São Sebastião, do Cananeense Dr Antônio Paulino de Almeida, publicado na Revista da História, nº 33, vamos ao texto, na linguagem de época:
Manuel Alves de Abreu, imaginando maiores lucros e desejoso de conseguir gratuitamente a pedra necessária, procurou entender-se com o padre Faustino José Bravo, que autorizou-o a extraí-la de uma pedreira de seu pai, o que levou o proprietário a protestar perante o govêrno contra semelhante ato.
Alegava o empreiteiro que as pedras em questão seriam para "ornamento, serventia e semetria da mencionada Igreja"
E que o dono da pedreira exigia-lhe então um "novo pacto" para conceder-lhe tal autorização.
E acrescentava:
"O sup.e vendo que sem.e arbitrio desdoura muito a primr.a acção de generosid.e que os donos da pedreira ozarão p.a com a nova Caza de Deos, e assim mais o alto prejuizo q. vai redundar, tanto no atrazo do edificio como no mais q. pode sobrevir a huma obra por todos os principios santissima e m.to necessaria seu completam.to ao Congresso dos Catholicos q. gemem por verem a Santa Religiam envergonhada por celebrar seus divinos officios em húa Igreja m.to velha m.to arruinadissima e m.to indecente p.a aquelles acttos e m.to mais p.a se conçervar no seu ceio o Augustissimo Sacramento da Eucharistia como por tantas pastoraes do primr.o chefe do rebanho de Jezus Christo desta Capitania tem sido lamentado seu deploravel estado.
Portanto o Sup.e cercado de duros obstaculos lançase aos pés de V. Ex.cia afim de que a actual obra da nova Igr.a senão atraze pello impedim.to que os donos da pedreira ofereçem ao Sup.e conhecendo V. Ex.ca aprecizão que dellas ha.
Cheio pois o Sup.e de esperança.
P.a V. Ex.cia
Havendo consideração a que neste Paiz não há obras de Cantaria. V. Ex.cia mande pello seu Respeitavel despacho o que vir ser mais justo a bem do Servisso de Deos.
E. R. M.
Manoel Alz. de Abreu".
Procurando harmonizá-los, intercedia o Capitão-General, oficiando ao Governador da Vila, o coronel Francisco Inácio, para que o informasse do que havia .
Dirigindo-se êle ao dono da pedreira, disse-lhe o mesmo em suas alegações, por escrito, serem "falsas as razões expostas pelo contractante Manoel Alvares de Abreu".
"O dono deste roxedo — escrevia — nunca foi faliado para esta gratuita acção, mas sim hum seu filho, o P.e Faustino Bravo, que pensava que a obra seria feita a jornal, não de empreitada".
Mas quando soube ter sido a mesma "contractada por dezasseis mil cruzados e que a pedra necessaria para a dita obra foi justa por dois mil, pouco mais ou menos, pelo nobre Senado, com o Capitam Mór desta Villa, cuja quantia recebera, — "então recusara dá-la gratuitamente, pois nesse caso "já não hia favorecer á Igreja, mas sim engrossar o cabedal de particulares...".
Se não houvesse dinheiro para cobrir tal despêsa, "na villa ainda existiam pessoas idoneas, que poderiam esmolar para esse fim, uma vez que não bastavam o grande tributo annual que os freguezes da Igreja pagavam ha doze annos mais ou menos, e o donativo dos libertos, que por si pagavam $o reis e dos captivos na importancia de 160".
Quando o pedreiro em coisa alguma concorria.
Se, se tratasse de esmola, nenhuma dúvida oporia, estando mesmo pronto para acudir com "seus carros e escravos, mas nunca para quem não precisava della".
"O sabio, e piedoso Despaxo do Ill.mo e Ex.mo Senhor Conde General bem mostra não querer mais do que aquilo que hé possivel e V. S.a não ignora a numeroza familia, que sustento em huma idade avançada, não tendo outras rendas mais do que o trabalho quotidiano, esta familia, Templos vivos do Espirito Santos a roda de hum Pai encanecido e doente, são motivos bastamtes para mover o coração terno, e piedozo, o coração Paternal do Illmo e Ex.mo Senhor Conde General, afim de aliviar-me de hoje em diante e a todos os meus filhos e filhas do mencionado Tributo annual para a factura da nova Matriz, huma vez que eu por me conformar com a sua vontade dê gratuitamente a pedra para os portais, obrigando-se o Mestre Pedreiro a todo e qualquer damno que aconteça em plantas ou Cazas com a tirada da pedra.
Sem embargo de todo o exposto fico prompto para obedecer a tudo quanto o Ill.mo e Ex.mo Senhor Conde General haja por bem dicidir sobre isto.
Tal hé a resposta, que com toda a submissão, e respeito tenho a honra de appresentar a V. S.a a quem Deos guarde por muitos anos.
Domingos da Costa Ribeiro".
As alegações tanto de um como de outro, foram informadas em 28 de janeiro de 1816 pelo coronel e governador da vila, que, em resumo, afirmava:
Terem sido as obras da nova Matriz começadas pelo mestre pedreiro Manoel Alves de Abreu, sendo o seu preço contractado por 16 mil cruzados;
Haver "o capitão-mór vendido as pedras pelo preço de 2 mil cruzados, de que logo recebeu o dinheiro".
Desse, incidente, motivado por interesses pessoais, resultou ser sustada a construção da Matriz, pelas graves acusações levantadas contra o empreiteiro.
A 11 de novembro de 1819, a Câmara da vila participava ao Capitão-general os fatos ocorridos em 1815 com o contratante, que também havia construído a de Ubatuba, a qual, "estando a construcção em andamento, aconteceu desmoronar-se por falta de segurança nos alicerces".
"Em 1816, — dizia a edilidade sebastianense, — desconfiados, Povo e Camara, do prestigio desse empreiteiro, suspenderam-lhe os pagamentos, não lhe dardo mais dinheiro para a continuação das obras que ficaram interrompidas, até que, chegando á vila como vigario collado, o reverendo Bernardo da Pureza Claraval e achando a Matriz antiga pouco decente, tentou reconstituil-a.
Com o auxilio do povo e mesmo algum dinheiro que possuia e mais uma contribuição de 40$000 da propria Camara".
Tendo sido excluído do serviço por incapacidade, fêz o mêsmo empreiteiro vários requerimentos à Câmara, que não foram deferidos e bem assim pediu para que fôsse levada a efeito uma vistoria na parte concluída, o que não foi possível fazer-se nessa ocasião "por não haver na terra professores daquella arte".
Realizando-se mais tarde, aos 11 dias do mês de novembro de 1819, servindo de peritos os pedreiros Capitão Atanásio Marques e Inácio Corrêa. "professores do dito officio", com a presença do vigário colado e testemunhas.
Para isso abriram em tôrno do alicerce "quatro cavas" até a profundidade de cinco palmos e meio e de grossura ou largura, seis palmos menos três dedos craveiros e em partes cinco palmos e meio e muito mal fabricado por não estarem traçadas as pedras se não sobrepostas urnas sôbre as outras, que com as mãos se estavam desmanchando, por estar fabricado com barro e areia e muito pouca ou nenhuma porção de cal, de forma que nas mesmas cavas e buracos que se abriram, logo que o alicerce ficou desamparado da areia que se cavou, entraram a despregar-se e a cair as pedras do mesmo alicerce, pelo que declararam ser impossível continuar na referida obra, porque não tinha alicerce competente para isso.
Porquanto naquele lugar de areia, era necessária a profundidade de dez palmos e ser estacado com madeiras por baixo, e pelos lados com cal e saibro competente, bem traçado e precisava mais um palmo de grossura, ao menos, visto ter de vão a Igreja que se pretendia fazer, cinqüenta e dois palmos de largura e vão e que no caso de se levantarem as paredes arribas, não poderia, sustentar o pêso das mesmas paredes pela fraqueza dos alicerces e antes de se deitar a madeira em cima, haviam vir abaixo, quanto mais suster o pêso do telhado e pela referida causa em suas consciências não davam valor algum ao dito alicerce e terminavam declarando que o empreiteiro "não tinha capacidade nem intelligencia para se encarregar della".
Fonte: revista de história número 33
Imagem: Wikipedia
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