Crônicas Indígenas Brasileiras- Kambô- A Vacina do Sapo
A aplicação da vacina do sapo tem origem em várias tribos indígenas da Amazônia, incluindo kanamaris, katukinas, caxinauás, matsés, marubos, matis, yaminawa, shawadawa, ashaninka e os culinas.
Segundo as tradições desses povos indígenas, o ritual acerca de seu uso visa acabar com a má sorte na pesca e na caça e também para acabar a "panema", o estado de espírito negativo que causa doenças
Panema é uma palavra da língua tupi e a maioria das tribos que atualmente utilizam as secreções do kambô (palavra de língua Pano) falam idiomas de outros troncos linguísticos, a saber: Kanamaris, Katukinas, Kaxinawa, Matis, Marubos, Matses, Yaminawa que falam dialetos da língua Pano, os Kampa ou Ashaninka, a língua Aruaque e os Kulinas de língua Aruá (com semelhanças ao Tupi), reforçando a ideia da livre circulação dos pajés entre etnias.
Segundo Akaiê Sramana, entre os Kaxinawás, o sapo kampu era o chefe do "nixi pëi", bebida preparada com o cipó Banisteriopsis caapi (mesmo cipó que produz a Ayahuasca).
Os Katukinas nunca os matam, pois dizem que poderão ser picados por cobras e nesse caso, o antídoto é a toxina retirada do sapo kambô.
Neste grupo indígena é utilizado com um mingau forte em um ritual, que segundo a crença, se não cumprido, o remédio não terá resultado.
As pesquisadoras Lima e Labate, assinalam que paralelo a expansão do uso entre seringueiros e mais recentemente no meio urbano, alguns grupos indígenas, como os nuquini e poyanawa, reiniciaram a sua utilização a partir de influências de grupos indígenas vizinhos que mantiveram o uso da secreção ao longo dos anos como os katukina, yawanawá, kaxinawá, marubo e matsés nos estados do Acre e Amazonas.
Essas mesmas autoras resgataram a descrição do missionário Constantin Tastevin, feita a 80 anos, relatando o uso da secreção dessa "rã" conhecida, nas línguas pano, como kampo ou kampu entre as que populações indígenas do Alto Juruá:
- O exército de batráquios é incontável.
O mais digno de ser notado é o campon dos Kachinaua.
Quando um indígena fica doente, se torna magro, pálido e inchado, quando ele tem azar na caça é porque ele tem no corpo um mau princípio que é preciso expulsar.
De madrugada, antes da aurora, estando ainda de jejum, o doente e o azarado produzem-se pequenas cicatrizes no braço ou no ventre com a ponta de um lição vermelho, depois se vacinam com o "leite" de sapo, como dizem.
Logo são tomados de náuseas violentas e de diarreia, o mau princípio deixa o seu corpo por todas as saídas: o doente volta a ser grande e gordo e recobra as suas cores, o azarado encontra mais caça do que pode trazer de volta, nenhum animal escapa da sua vista aguda, o seu ouvido percebe os menores barulhos, e a sua arma não erra o alvo.
Farmacologia
Segundo Haddad Jr. e Itamar, desde a década de 1980, pesquisadores e empresas se interessam pela composição dessas secreções.
A secreção inclui uma variedade de compostos chamados peptídeos, com diferentes efeitos.
Peptídeos encontrados nestas secreções incluem a dermorfina e a deltorfina.
Estes peptídeos se ligam aos receptores opioides sauvagina, um vasodilatador, e dermaseptina, que possui propriedades antimicrobiais in vitro.
Várias outras substâncias, como a filomedusina, filocinina, cerulina e adrenoregulina também estão presentes.
Existe pesquisa médica ativa sobre os efeitos biológicos dos peptídeos encontrados nas secreções da pele das Phyllomedusa bicolor.
Até novembro de 2019, apenas pesquisas pré-clínicas em ratos e camundongos haviam sido publicadas, mas ainda não havia nenhum ensaio clínico da segurança em humanos.
Fonte: Wikipedia
Comentários
Postar um comentário