Crônicas de Taubaté- O Coronel Salvador Fernandes Furtado de Mendonça
O coronel Salvador Fernandes Furtado de Mendonça (? - 1725) foi famoso bandeirante, figura importante na descoberta do ouro em Minas Gerais e no seu desbravamento, sobretudo inicialmente, nos arredores de Mariana, Ouro Preto e São Caetano.
Natural de Taubaté, era filho de Manuel Fernandes Edra e Maria Cubas (Vol V - pág. 433 2.ª Parte § 1.º Título Alvarengas - Genealogia Paulistana de Silva Lemes).
Diogo de Vasconcelos diz dele que "observado de perto, não foi menos que o Borba, que Arzão e que os Buenos, mas todavia se fez maior, como Antônio Dias de Oliveira, que de inferior a todos, colocou-se no primeiro plano, atento o valor e o resultado de seus descobrimentos".
Casou com Maria Cardoso de Siqueira; passou a residir em Taubaté; sertanista de mérito, com seu cunhado Francisco Pedroso fez desde 1687 entrada ao sertão de Caeté nas futuras Minas Gerais.
Em 1694 fez entrada para a casa da Casca, para as bandas do rio Doce, para prear índios, sua bandeira teria encontrado fortuitamente na Itaverava com a bandeira de Bartolomeu Bueno de Siqueira, composta por Manuel de Camargo, João Lopes de Camargo, Miguel de Almeida e Cunha, Antônio de Almeida e outros, acabava de descobrir indícios de ouro no local.
Obteve algumas oitavas que levou a Taubaté, de onde Carlos Pedroso da Silveira, sócio de Bartolomeu Bueno de Siqueira, as levou para o Rio de Janeiro e deu em manifesto ao Governador em 15 de junho de 1695.
Continuou, ao que parece, as pesquisas de ouro no local até 1697, quando voltou a Taubaté, em 1700 teria retornado às Minas Gerais e descoberto as minas do Bom Sucesso, na região de Ouro Preto, em continuação as descobertas na região do Ribeiro do Carmo, futura Mariana.
Tendo a esposa ficado em Pindamonhangaba, somente em 1711 o marido a mandou vir para as Minas.
Em 26 de março de 1711 recebeu sesmaria que diz que «tinha assistido nas Minas há sete anos e em todo esse tempo e nos mais do princípio do descobrimento das ditas Minas sempre cercando os matos e mandando fazer por seus filhos e escravos a buscar descobrimentos de lavras de ouro como consta dos que tem descoberto de grandes lucros; e agora queria mandar vir a sua família e parentes a morar nas Minas e não tinha largueza de terras para os acomodar e porque estavam devolutas as cabeceiras de uma sesmaria que eu fora servido dar-lhe no sitio do Morro Grande para a parte do Bromado me pedia fizesse mercê dar as ditas cabeceiras com uma légua de sertão para Guarapiranga, mandando-lhe passar carta.»
É sua definitiva fixação em Minas Gerais, mas desde 1703 morava no Morro Grande , devendo-se à sua atividade o desenvolvimento da vila do Ribeirão do Carmo.
Assim, pouco depois de 1711, a família se instalou em São Caetano.
O coronel morreu com todos os sacramentos e deixou testamento, sendo sepultado em 21 de julho de 1725 na capela-mor, debaixo do arco cruzeiro, da matriz de São Caetano, pelo vigário Francisco Xavier.
Sua esposa Maria morreu em 9 de março de 1726 tendo recebido o sacramento, deixando ao filho padre, seu testamenteiro, vários legados.
Primeiro, sepultá-la em uma das covas do Santíssimo Sacramento, por gozar do privilégio como mulher de um irmão, do que o vigário do Ribeirão do Carmo Padre João de Carvalho Alves, fez assento.
No testamento da viúva do coronel já não surgem como escravas Bárbara e as filhas, certamente alforriadas então.
Tiveram sete filhos, alguns nascidos em Taubaté, outros em Pindamonhangaba, vila próxima, a dia e meio de viagem, onde o marido a fizera residir. Rocha, Prepetinga e Prazeres, no sertão entre o Carmo e Guarapiranga.
Entre os parentes trazidos para Minas, na capela do Carmo em 1711 fez sua sobrinha D. Mônica Fernandes (filha de seu irmão Manuel Fernandes Cubas) casar com Domingos Nogueira Vargas.
Havia numerosa parentela na região de São Caetano, como Boaventura Furtado de Morais, seu sobrinho; Pedro Pais de Barros, João de Sousa Castelhanos, Afonso Gaia, o fundador do arrail.
A figura do coronel é das mais nítidas: não foi menos que Arzão, Borba Gato ou Bartolomeu Bueno de Siqueira, pois os cronistas dizem que o ar do Carmo «deve a ele a luz que o resgatou do selvagismo.».
O coronel, homem bastante rico, tinha vida trivial, bem adaptado à sociedade de onde morava, pacífico, morreu tranquilamente em sua cama.
Sua única excentricidade foram seus livros, segundo os cronistas, como as Ordenações do Reino, que tinha encadernadas, em pastas com frisos de ouro, o Repertório das Minas, uma História Social em seis volumes e mais 27 livros de muitos autores encadernados em pergaminho.
Tinha louça de porcelana, talheres de prata e copos de vidro e prata, o que era verdadeiramente raro.
Os antigos livros sobre Minas Gerais dizem que «montava cavalo alazão arreado com sela de pele de onça, coxim de marroquim, xaréu e bolsão de veludo verde bordado a retrós amarelo, freio de prata nas ocasiões solenes para vir à missa do arraial ou andar na vila, onde muitas vezes foi nomeado juiz ordinário.
Nos coldres, carregava seu par de pistolas de canos de bronze e aparelhadas de prata.
Nas festas trajava-se com esmero, calças de limites e meias de seda, véstia de veludo, chapéu de três quinas finíssimo, todo de preto, a lhe luzirem nas meias e sapatos fivelas de ouro e pedras; apoiava-se no bastão encastoado de prata.
Tinha mais dois outros fatos e um capote de camelão vermelho, além de outras peças interiores.
No trem bélico, 14 armas de fogo, algumas aparelhadas de prata, catanas e lanças, o que não era demais, pois índios e negros enchiam de sobressalto as Fazendas e povoados, como uma ocasião em 1712 e noutra em 1719.
Dizem também os antigos cronistas: «Os quilombos se explicavam, negros fugiam em grande número, a sorte é que pretos e índios eram inimigos entre si".
Em 1724 o coronel foi eleito Provedor do Sacramento, para fazer a Semana Santa de 1725 que foi soleníssima.
Domingos Pais de Barros, seu parente, anos antes instituíra a solenidade, organizando orquestra que lhe dera grande dificuldade, sendo a música arte de escravos; se um escravo valia 180 oitavas, um negro trombeteiro alcançava de 500 a 1.000!
Por termo de 15 de outubro de 1724 os oficiais nomeados da Irmandade se comprometeram a doar 1.403 oitavas para a celebração da Semana Santa, e o coronel assinou as 500 que lhe competiam; no mesmo dia se assinou a autorização de compra de ornamentos, devendo-se a importância pagar pro rata.
Morara então da sua Fazenda do Rio do Peixe, caminho do Gama, cujo âmbito abrangia as Cachoeiras de Lavras Velhas, pois por carta de sesmaria de 3 de março de 1718 o governador D. Pedro de Almeida Portugal, conde de Assumar, confirmou a posse do coronel nos três sítios que fundou no Rio do Peixe, onde morava com mulher, filhos e genros.
Por se estabelecer ali um grande engenho de cana, o sítio do Morro Grande adquiriu e guarda ainda o nome de Engenho Pequeno.
Havia ali também uma mineração de roda (inventada em 1710 pelo Padre Bonino) no ribeirão de São Caetano.
Tinha outras terras e propriedades na Bela Vista.
Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/Salvador_Fernandes_Furtado
Imagem: https://www.geni.com/people/Salvador-Fernandes-Furtado-de-Mendon%C3%A7a/6000000019011017240
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