Crônicas da Cidade de Itu- A Convenção Republicana

Após a Guerra do Paraguai (1864-1870). que foi decisiva para o enfraquecimento da monarquia, organizaram-se clubes radicais, que professavam o positivismo e o liberalismo gerando a doutrina republicana.

A Convenção de Itu, realizada em 18 de abril de 1873, na residência de Carlos de Vasconcelos de Almeida Prado, foi considerada a primeira reunião oficial dos republicanos em São Paulo.

Já em 1871, com a formação do Clube Republicano de Itu iniciam-se os primeiros passos para a organização do Partido Republicano local. 

A Cidade era uma das mais importantes da Província de São Paulo, tinha em funcionamento a primeira fábrica a vapor de fiação e tecelagem a  São Luiz, onde posteriormente meu Avô Antonio Benedicto Marins, natural de Itu, chegou a trabalhar.

Principais Deputados republicanos Paulistas, da direita para a esquerda: Martinho Prado Junior, Rangel Pestana, Campos Sallles, Gabriel Pizza, Prudente de Morais e Antonio Gomes Pinheiro Machado

As articulações políticas de republicanos, representantes da capital e do interior para a organização de um Congresso, começaram em São Paulo, em 1872, sendo que a partir da votação de todos os clubes republicanos de São Paulo, duas cidades foram indicadas para sediar o Congresso: Campinas e Itu. Apesar de Campinas contar com a presença de importantes lideranças, como o próprio Américo Brasiliense, Jorge Miranda, Francisco Quirino dos Santos, Campos Sales, Elias do Amaral Souza e Francisco Glicério, Itu foi a escolhida. 

Um dos fatores relevantes para a escolha de Itu foi a inauguração da estrada de ferro Ituana, marcada para dia 17 de abril de 1873. Essa ferrovia era um símbolo da modernidade e do progresso econômico local. 

Idealizada e custeada pelos fazendeiros da região, permitia integrar a comercialização de produtos agrícolas, como o café, o algodão e a cana de açúcar, à cidade de Jundiaí, entroncamento da linha ferroviária da São Paulo Railway (1867), ligação com São Paulo e o Porto de Santos.

No livro de Atas consta o registro de 129 participantes, sendo 32 de Itu, 9 de Jundiaí, 14 de Campinas, 9 de São Paulo, 4 de Amparo, 4 de Bragança, 2 de Mogi-Mirim, 5 de Constituição (atual Piracicaba), quatro de Botucatu, 1 de Tietê, 14 de Porto Feliz, 14 de Capivari, 5 de Sorocaba, 9 de Indaiatuba, 1 de Bethem de Jundiai (atual Itatiba), 1 de Vila de Monte Mor, 1 de Jau e 2 do Rio de Janeiro.

A Convenção foi presidida por João Tibiriçá Piratininga, presidente da Província de São Paulo, e secretariada pelo Dr. Américo Brasiliense de Almeida Mello. 

O Manifesto de Itu, resultado da Convenção, foi assinado por 78 fazendeiros, 10 médicos, 8 advogados, 5 jornalistas, além de farmacêuticos, dentistas e negociantes. O Maestro Elias Lobo e seus irmãos, José e Francisco naturais de Itu, também participaram ativamente. 

Entre esses podemos destacar: Américo de Campos, Bernardino José de Campos Júnior, Campos Salles; Francisco Glicério; João Tobias; Manuel de Morais Barros, irmão de Prudente de Morais; Martinho Prado Júnior, irmão do conselheiro Antônio Prado, e José Alvos de Cerqueira César, sogro de Júlio de Mesquita. 

Nele, não aparecem as assinaturas de Prudente de Morais, nem a de Manuel Joaquim de Albuquerque Lins. 

Em outro livro, o de registro de assinaturas, doado por Jorge Tibiriçá Piratininga, filho de João Tibiriçá Piratininga ao Museu Republicano, são encontradas 133 assinaturas, número constantemente citado sobre a Convenção de Itu. 

Dos 133, alguns se destacaram na política nacional, como Prudente de Morais (1841-1902), proprietário de terras, advogado e deputado geral, equivalente ao atual cargo de deputado federal. 

Ainda durante o Império, Prudente de Morais foi a principal voz do PRP na Assembleia do Rio de Janeiro, tendo feito vários discursos contrários à monarquia. 

Com a proclamação da República, ele se tornaria o primeiro presidente civil do Brasil, governando de 1894 a 1898. 

Campos Salles (1841-1913), segundo presidente civil do Brasil, também esteve presente na fundação do PRP, embora não tenha assinado a ata da Convenção. 

O manifesto tratou, fundamentalmente, de três temas básicos: a autonomia das províncias através do regime federativo, a contraposição ao regime monárquico e a libertação da mão-da-obra escrava. 

Das deliberações sobre a constituição do Partido Republicano Paulista registradas na Ata da Convenção constam:

1ª Será constituída na Capital da Província uma Assembleia de representantes de todos os municípios. 

2ª Funcionará, a primeira vez, em dia marcado pelos presentes cidadãos, e posteriormente como e quando for determinado pelos meios adotados em sua Constituição. 

3ª Cada município elegerá um representante. 

4ª O sistema eleitoral será o do sufrágio universal, e a idade de 21 anos completos e a não condenação criminal darão o direito de voto a todo cidadão. 5ª A Assembléia de representantes no fim de cada Sessão nomeará uma Comissão para no intervalo das reuniões dirigir os negócios do Partido, entender-se com os Clubes municipais, e tomar as providencias exigidas pelas circunstancias, que se derem, ficando porem seus atos sujeitos á aprovação da Assembléia

Estas bases foram distribuídas para todos os núcleos republicanos da Província de São Paulo e publicadas em jornais de grande circulação, como o Correio Paulistano,. 

Coube a organização desta reunião aos republicanos Ituanos João Tibiriçá Piratininga e João Tobias de Aguiar Castro. Nota-se que as comemorações da inauguração da estrada de ferro ituana e da Convenção de Itu, movimentaram a cidade até o dia 20 de abril de 1873, com a realização de inúmeras atividades políticas e sociais como bailes, queima de fogos e discursos.

Após a publicação do Manifesto e da criação do PRP, o movimento republicano ganhou mais força, com o surgimento de outros partidos republicanos provinciais, como o Partido Republicano do Rio do Grande do Sul. 

As ideias republicanas no país deixaram importante legado para a sociedade. 

Após a proclamação da República, o voto deixou de ser censitário (baseado na renda) e passou a ser universal, aumentando a participação de setores da sociedade no processo eleitoral. 

As mulheres, militares de baixa patente e analfabetos continuaram, contudo, sem direito a voto logo após a proclamação, só adquirindo o direito em 1933. 

Com a República, também ocorreu a divisão dos Poderes entre Executivo, Legislativo e Judiciário, deixando de existir o Poder Moderador, exercido exclusivamente pelo Imperador, a quem os demais Poderes estavam submetidos.

O imóvel onde ocorreram os fatos, foi convertido em Museu Republicano Convenção de Itu sendo  inaugurado no dia 18 de abril de 1923, sob a gestão Washington Luís Pereira de Souza. 

Washington Luís, como ficou conhecido, que era então presidente da província de São Paulo e estudioso da História paulista, viabilizou o projeto. 

Instalado na casa onde cinquenta anos antes havia sido realizada a reunião dos republicanos, o museu materializava um projeto de políticos Ituanos e antigos membros do PRP – Partido Republicano Paulista: preservar o prédio da Convenção para transformá-la em memorial da República. 

A ideia já vinha sendo discutida desde 1917, após a contratação de Afonso d´Escragnolle Taunay como Diretor do Museu Paulista, mais conhecido como Museu do Ipiranga, e do Republicano, cargo em que permaneceria até 1946. 

Toda a articulação integrava as comemorações do Centenário da Independência do Brasil, iniciadas no ano anterior a 1922. 

A remodelação do Museu do Ipiranga e sua transformação institucional em um Museu Histórico, com destaque para a História de São Paulo, fazia parte do projeto da elite cafeeira paulista. 

O Museu Republicano contava com vários objetos, móveis e documentos, muito deles, doados pelos membros do Partido Republicano Paulista, bem como, pelos familiares dos convencionais. 

Desses primeiros acervos do Museu, destacam-se inúmeras telas e retratos, entre elas o quadro “Convenção de Itu – 1873”, encomendada por Taunay ao artista Ituano Jonas de Barros e pintada em 1921.

Na década de 1930, Taunay começou a elaborar a Galeria dos Convencionais. 

O historiador fez uma grande campanha em diversos jornais para conseguir as imagens daqueles que participaram da Convenção de Itu, colecionou as imagens e a partir delas, encomendou as telas a óleo para diversos artistas muito reconhecidos da época, como Tarsila do Amaral, Henrique Távola e Oscar Pereira da Silva. 

Fonte: Wikipédia e Biblioteca digital de obras raras e especiais da USP.

Imagens: Alesp- Convenção de Itu, Museu Republicano- Fachada, Pintura Convenção de Itu, 1921, obra de Jonas de Barros, Pintura do Dr Prudente Morais de José Barros, pintado por Almeida Junior, Deputados Republicanos- História da Vila Prudente.. 

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